domingo, 15 de junho de 2008

Hoje é dia 31 de Março

Hoje é dia 31 de Março, segunda-feira, notei que é o típico início de semana recheado de matérias e novidades. Eu muito bem poderia entrar aqui para falar do sociólogo atontado e, possivelmente, com aspecto de mulherengo, que deliberadamente ou até mesmo de forma descarada, usou o que pouco sabe para defender a poligamia. Ou então, mais uma vez, falar dos defeitos da governança que existe no país. Mas como a poligamia é mais um desses “problemas que estamos com ele”, por enquanto vamos deixar esse tema de molho e ir atrás de problemas irritantes.

Entre todas as desgraças do fim e do início de semana, escolhi a que mais pode preocupar o cidadão: a negligência dos nossos administradores ou gestores públicos.

Ser crítico pode parecer uma atividade fácil de quem está longe de todos os problemas. Eu também concordo que é uma tarefa fácil, quando se está longe de tudo. Mas é constrangedor quando ainda se tem valor, quando se é sério e acima de tudo quando se tem vergonha. É constrangedor, mas é o tipo de coisa a ser usado como instrumento de correção para impor limite à preguiça e à negligência. E para ser sincero diante de tanta incompetência é o que melhor podemos fazer, é a única coisa possível ao nosso alcance.

Usando a nossa crítica, a nossa intenção, e jamais, não é a de fazer parte do bando de especuladores que fazem questão de manifestar a sua satisfação com a desgraça humana, não é a de pertencer na mesma lista que enquadra o locutor faminto da rádio Eclésia.

Mas uma coisa é certa, convicção irrefutável, esse é o típico acidente que poderia ser evitado. Até mesmo num país onde decisões políticas e administrativas são encabeçadas com doses excessivas de vaidades. Em qualquer país do mundo um prédio como o do DNIC( Departamento Nacional de Investigação Criminal) seria a típica instalação em que sua pomposidade arquitectônica refletiria a força e o prestígio do Poder Público; seria a típica instalação que induziria respeito confiança e segurança, além de tudo harmonia. É claro se não houvesse negligência e desrespeito; desrespeito e negligência, em primeiro lugar, à lei e aos bons princípios, e em segundo lugar à sociedade como um todo que precisa dos serviços que o DNIC presta.

O que irrita mesmo é saber que esse lugar ou local, em media, em dias normais, era freqüentado por duas mil pessoas. Pelo que conheço da cidade de Luanda (ou conhecia), é talvez um dos prédios com maior fluxo de pessoas.

Afinal, vivemos num país rico, do petróleo e dos diamantes, onde a Sonangol empresa dos petróleos dá-se até o luxo de doar dinheiro à igreja Maná. Onde a Diamang, empresa dos diamantes, o que não falta nela é dinheiro para reformar e construir museus e promover as exposições mais luxosas que esse país conheceu.

O prédio do DNIC foi vistoriado e reformado meses ou possivelmente anos atrás, mas o suficiente para que se detectassem todos os tipos de anomalias, mesmo porque as possíveis técnicas de engenharia que deveriam ser usadas não constituem engenhocas tão difíceis que um aluno no segundo ano do curso de engenharia ou mesmo um leigo não pudesse detectar. O prédio, segundo seus freqüentadores, estava em pedaços, com rachaduras em suas paredes e filtrando água por todos os lados. Os cegos chegariam à mesma conclusão de quem inspecionou o mesmo.

Foi um acidente, dir-se-ia, e acidentes acontecem, mas é o tipo de acidente que poderia ser evitado; se aqueles que nos governam fossem menos preguiçosos e negligentes e tivessem o mínimo de vergonha. O bom administrador ou gestor não é aquele que está apetrechado de boas intenções; é aquele que é capaz, no mínimo, de morrer de vergonha mesmo quando é reconhecido e assumidamente competente pelos seus atos.

Um prédio como o do DNIC jamais deveria desmoronar-se como um castelo de área, aquele castelo que nossas crianças fazem a beira da praia. Mesmo diante de um tremor de terra deveria estar preparado para resistir e mostrar a sociedade que é uma “instituição poderosa”, que tem força e está livre de ameaças. Ameaças de todos os tipos: a ameaça contra a preguiça, contra o descaso, o desleixo, a insegurança, contra os desvios dos recursos públicos ( a que o mesmo prédio ou instituição foi vítima), a ameaça contra a arrogância e a negligência.

Aqui no nosso blog de vez enquanto somos acusados de sermos incoerentes e até mesmo para uns de não sabermos de que lado estamos. Como se definição de linha política ou partidária implicasse em aceitar e viver fazendo vista grossa em tudo o que há de errado, quando esse erro vem do lado onde menos esperamos. Assim, essa é a outra grande falha que temos, ninguém pode criticar porque senão a crítica pode prejudicar os amigos, os velhos camaradas e parentes. A verdade é que se nossa educação e cultura se baseasse no critério da imparcialidade onde criticar pudesse ser visto como parâmetro de medida, até mesmo para evitar desgraças, quem sabe o prédio do DNIC não teria nunca o fim que teve, sacrificando a vida de mais de uma dezena de pessoas.

Mais uma vez termino preocupado, desta vez não só com os políticos e os administradores, mas até com aquele grupo de pessoas que possivelmente até eu pertenço, e sem muita pretensão: os ditos acadêmicos. Aqueles que saem defendendo uma ordem escravocrata em pleno Século XXI: a poligamia. Que horror!

por Nelo de Carvalho
Fonte: http://blog.comunidades.net/nelo/

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